Quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Trigo: ciclo inicia com alta de preço e aumento de área

O produtor de trigo do Paraná viu neste ano o ciclo da safra de trigo começar diante de um panorama não muito comum: uma tendência de alta do preço médio da saca de 60 kg. De acordo com o levantamento denominado Preços médios nominais mensais recebidos pelos produtores no Paraná, da SEAB, em todos os primeiros seis meses de 2020 o valor superou os da mesma época de 2019. Depois de iniciar janeiro em R$ 48,38, a média paranaense da saca chegou, em maio, a nada menos do que R$ 60,13, frente aos R$ 45,78 de maio passado, numa valorização em torno de 30%. Ainda segundo a secretaria, em seu Boletim Semanal do dia 26 de junho, no campo este quadro motivou uma expansão de 10% de área de triticultura no estado, que passou dos 1,02 milhão de hectares na safra 2018/2019 para uma previsão de 1,29 milhão de hectares agora. Com isso, a produção paranaense que ano passado foi de 2,14 milhões t, tem estimativa de 3,67 milhões t neste ano, o que representaria uma elevação de nada menos do que 72%.

Já em Guarapuava e nove municípios vizinhos, onde o trigo é uma das principais culturas de inverno, a estimativa é a de que o agricultor esteja expandindo suas áreas num percentual ainda maior: nos números do DERAL da SEAB, a cultura passa dos 39,2 mil hectares de 2018/2019, para uma estimativa de 54,1 mil hectares neste ano, o que significa uma expansão de 38%.

No distrito de Palmeirinha, Aramis Siqueira era um dos produtores que, em junho, se encaminhava para o final de sua época de semeadura. Em entrevista, recordou que há oito anos se dedica à triticultura, tanto como uma forma de ter uma lavoura comercial na estação fria do ano, como para ajudar a preservar o solo e contribuir para uma boa rotação com culturas de verão, como soja, milho e feijão. “Plantamos para a terra não ficar nua”, assinalou. Ele destacou que também seguiu a tendência deste ano no Paraná: “A área está aumentada do ano passado para este”. Para a colheita que deve ocorrer por volta de 10 de novembro, antecipou ainda a sua expectativa de produtividade: “60 sacas por hectare”. Já para o preço, Siqueira diz esperar que se mantenham os patamares verificados no final do primeiro semestre: “R$ 58,00 a saca”.

Na região de Candói, outro produtor de trigo relatou que, ao longo de três décadas, as dificuldades com geada ou com preço o levaram, há nove anos, a dividir a área do cereal de inverno com a canola – neste ano, ambas as culturas com o mesmo espaço. “O trigo é sempre aquela história: quando produz bem, o preço cai, quando é uma frustração na safra, por questão de clima, geada, o preço melhora”, disse Paulino Brandelero à REVISTA DO PRODUTOR RURAL no dia 22 de junho, às vésperas de encerrar o plantio. Porém, ele também considera importante continuar na triticultura, para manter o solo coberto e ajudar no desempenho da soja plantada na sequência. “Deixar a área descoberta, você já está perdendo”.

Na produtividade, o produtor contou que tem alcançado patamares de 140 a 160 sacas por alqueire. Para esse ano, acrescentou, o investimento é novamente para que a lavoura, a ser colhida na primeira quinzena de novembro, resulte em índices de médios a elevados: “Já cheguei a 172 sacas por alqueire. Com 160, já tenho uma margem de lucro. Com esse preço que está aí hoje, a R$ 58 (a saca de 60 kg), o trigo dá uma margem”.

Na opção pela canola, detalhou Bandelero, o que pesou foi o custo de produção. Pelos seus cálculos, no sistema produtivo de suas áreas, o investimento fica em torno de 50% menor do que o do trigo. No começo registrando de 55 a 60 sacas por alqueire, o agricultor aponta que aquele volume se elevou: “Hoje tem umas variedades novas de canola que estão chegando com facilidade, se não tiver problemas climáticos, a 100, 110 sacos por alqueire”. Mas também nesta cultura ele reconhece desafios diante do frio: “A dificuldade dela, pra mim, é só geada. Geada que pega aí na fase de floração”. Por outro lado, Brandelero destaca que vê no enraizamento de tipo pivotante um ponto positivo: “A raiz da canola desce lá na profundidade de três metros, quatro metros”.

Resumindo, ele lembra que, todo ano, quem cultiva a terra aguarda pelo melhor: “A esperança do produtor sempre é boa. É que tenha produção ótima, que os preços sejam bons e que o clima seja favorável na hora da colheita. A gente tem que fazer a nossa parte. A agricultura, mais uma vez, vai segurar o nosso país. E eu espero que ainda, uma hora, a agricultura vai decidir indicar quem são nossos futuros mandantes dessa nação”.

No mesmo município, o agricultor Gabriel Fuchs, de uma família que cultiva trigo há cerca de 15 anos, disse em entrevista, dia 1º de julho, que apesar do recente aumento de preço daquele cereal, a decisão não foi a de aumentar o plantio 2019/2020. Conforme explicou, na propriedade, a opção é manter, a cada safra, uma área aproximadamente do mesmo tamanho, independente dos altos e baixos das temperaturas, das chuvas e das cotações do mercado. “A gente, em relação ao ano passado, praticamente manteve a área”, declarou – atitude que confirma que a posição foi mantida mesmo depois da fazenda registrar, em 2019, uma colheita de trigo positiva: “Se você pegar o ano passado, a produtividade nossa foi muito boa. Tanto a produtividade, quanto a qualidade, com um preço muito bom. Então, para a gente, foi muito rentável”.

Se o bom resultado se repetirá neste ano, Fuchs acredita que ainda é cedo para afirmar, recordando vários são os fatores que podem influenciar até a colheita, que em sua lavoura está prevista para meados de novembro. Mas contou como vê o cenário: “Acredito sim que tem uma boa perspectiva de preços. O trigo é um mercado que depende muito de oferta e demanda interna, nossa aqui. Com relação a esse dólar que está alto, a gente sabe que tem ficado muito caro para o Brasil importar trigo argentino. Existe uma preferência pelo trigo nacional hoje e isso é uma coisa muito boa para o produtor brasileiro. É realmente difícil de dizer, mas tenho boas perspectivas”.

Também ouvido pela REVISTA DO PRODUTOR RURAL, o agrônomo, produtor de trigo em sua propriedade em Candói, presidente do Sindicato Rural de Guarapuava e membro da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas do Sistema FAEP/SENAR-PR, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, disse ver em 2019/2020 fatos novos e dilemas antigos.

Como fato novo na cultura, mencionou a venda antecipada, já comum há muitos anos em outras atividades, como a soja. “Algumas das novidades deste ano é que este mercado futuro, esse mercado de contrato, está sendo mais corriqueiro no Brasil, com empresas e moinhos travando preço de contrato com os produtores – modalidade em que esse produto vai ser entregue em outubro ou novembro desse ano. Isso é uma novidade, dá segurança ao mercado também”, avaliou, em entrevista dia 7 de julho.  

Já entre os conhecidos desafios da triticultura, citou que em Guarapuava e região, onde o cultivo muitas vezes acontece em rotação com a soja, vários produtores mais uma vez iniciam o ciclo diante de uma questão: planejar a sucessão das duas culturas, ajustando épocas de plantio e colheita para que cada uma possa ter o melhor resultado possível. “Outro ponto interessante, e que tem um pouco relutância de alguns produtores, é que para nós, aqui no centro-sul do estado, região fria, de temperatura baixa, temos a grande questão do dano das geadas tardias de setembro no trigo. Então, normalmente plantamos mais para final de junho e julho, para tentar escapar dessa geada na fase reprodutiva da lavoura. Com isso, atrasamos também a colheita. O trigo vai ser colhido só normalmente nos últimos dias de outubro e começo de novembro”, assinalou. E detalhou: “Essas primeiras sojas que têm sido plantadas na primavera, e essas de alto potencial produtivo, preferem os plantios do início da temporada, quer sejam em setembro ou outubro. Alguns ficam na dúvida de plantar trigo ou só fazer cobertura e ter uma soja mais produtiva”.

E entre perdas e ganhos da sucessão daquelas culturas, o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava vê a utilização do seguro rural como uma tendência: “Outra questão que se observa é que cada vez mais, e principalmente neste ano, nós temos uma opção de seguro para trigo e que boa parte dos produtores deve optar por este seguro. E também a gente vê um caminho sem volta nessa utilização do seguro agrícola para safra de verão”, concluiu.

Números da CONAB (8 de julho) mostram que tanto o centro-sul do Paraná como o estado como um todo estão seguindo uma tendência nacional: na comparação desta safra com a anterior, com a área de triticultura no Brasil sobe de 2,04 milhões de hectares para 2,31 milhões de hectares, e a produção, de 5,15 milhões t para 6,31 milhões t.

Trigo

 

Preço médio da saca de 60 kg – Paraná (em R$)

Após a colheita de culturas de verão, no primeiro trimestre do ano, o segundo trimestre é o momento em que os produtores de trigo do PR se preparam para implantar suas lavouras. Em 2020, nos primeiros seis meses do ano, os preços médios da saca de trigo se mostraram acima dos patamares de 2019.

 

Ano / Mês

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

2019

47,23

48,64

48,32

46,50

45,78

45,70

2020

48,38

50,64

54,00

57,29

60,13

58,48

(Fonte: SEAB – Preços Médios Nominais Mensais Recebidos pelos Produtores no Paraná)

 

Custo médio de produção por hectare – Paraná (em R$)

Ano

Maio

2019

3.609,54

2020

3.819,84

(Fonte: SEAB – Custos de Produção do 2º trimestre de 2020)

Produção – Guarapuava e região

(Campina do Simão, Candói, Cantagalo, Foz do Jordão, Goioxim, Guarapuava, Pinhão, Prudentópolis, Reserva do Iguaçu e Turvo)

Ano safra

2018/2019

2019/2020

(Estimativa SEAB em 22/06/2020)

Área (ha)

39.200

 

54.150

(+38%)

Produtividade média (kg/ha)

3.500

4.200

Produção (t)

137.200

 

227.430

(Fonte: SEAB – Planilha Comparativo de área, produção e rendimento para a cultura – Safras 18/19 – 19/20)

 

Produção – Paraná

Ano safra

2018/2019

2019/2020

(Estimativa SEAB em 22/06/2020)

Área (ha)

1.028.506

 

 

1.129.956

(+10%)

 

Produtividade média (kg/ha)

2.205

 

3.250

 

Produção (t)

2.140.933

 

3.672.117

 

 

(Fonte: SEAB – Planilha Comparativo de área, produção e rendimento para a cultura – Safras 18/19 – 19/20)

 

Produção – Brasil

Ano safra

2019

2020

(Estimativa CONAB em 08/07/2020)

Área

(milhões de ha)

2,04

2,31

Produtividade média (kg/ha)

2.526

2.723

Produção

(milhões de t)

5,15

6,31

(Fonte: CONAB – Acompanhamento da Safra Brasileira Grãos – Safra 2019/20 – 10º Levantamento, de 8 de julho de 2020)

Safras: verão e inverno

No Paraná, a SEAB estima em levantamento de 22 de junho que o estado, na safra 2019/2020, apresenta uma área de cerca de 10 milhões de hectares (culturas de verão e inverno), que deverá produzir 40,8 milhões t. A previsão é 13% superior ao volume de 2018/2019, que foi de 36 milhões t, e fica em 2% abaixo do recorde histórico estadual verificado na safra 2016/2017, que chegou a 41,67 milhões t. Em nível nacional, a CONAB, em seu 10º Levantamento de Safra, de 8 de julho de 2020, estima que o período 2019/2020 vem confirmando mais um recorde. A produção está calculada em 251,4 milhões t, numa elevação de 3,9% (9,3 milhões t) sobre 2018/2019 (a companhia observa que o resultado ainda pode ser alterado). A área semeada aumentou em 4% (2,53 millhões de hectares), totalilzando 65,8 milhões de hectares (os números incluem culturas de verão e inverno).

Canola – Em Guarapuava e região, a canola, neste ano, corresponde a 270 hectares, com produção estimada em 432 t. No Paraná, são 330 hectares, com previsão de 534 t. Em nível nacional, 33,5 mil hectares, que têm estimativa de produzir 47,6 mil t.

Seguro Rural – No Plano Safra 2020/2021, do Governo Federal, em vigor desde o dia 1º de julho, o valor destinado ao seguro rural é de R$ 1,3 bilhão. Já os recursos totais do plano chegam a R$ 236,3 bilhões, com alta de 6,1% (mais R$ 13,5 bilhões) em relação à safra anterior. 

 

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