Segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Milho: entre altos e baixos do mercado

Tradicional, tecnificado e reconhecido por elevadas produtividades por hectare, o milho em Guarapuava e região deve manter, nas lavouras de verão 2018/2019, uma área próxima à da safra anterior. Na região, onde predomina a safra única (verão), com plantio entre setembro e outubro para colheita entre fevereiro e março, uma estimativa inicial do Departamento de Economia Rural (DERAL) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná-SEAB (atualização semanal de 17 de setembro de 2018) mostra que a cultura passaria de 57,1 mil hectares, em 2017/2018, para 58,3 mil hectares em 2018/2019, o que representaria uma pequena expansão de cerca de 2%. Ainda de acordo com as mesmas projeções, a produtividade média regional também deverá se elevar em relação à safra passada, subindo de 9,7 mil kg para 10,1 mil kg por hectare. Como resultado, a produção passaria de 553,8 mil toneladas para 588,8 mil toneladas, num crescimento de 6%.    

A comparação entre a última safra e a atual se mostra diferente das oscilações registradas, também pela SEAB, entre anos recentes: em 2014/2015, foram 77.850 hectares, com volume final de 708.045 toneladas. Em 2015/2016, 61.850 hectares, com 587.395 toneladas. Já no período 2016/2017, nova elevação: 72.300 hectares, gerando 782.200 toneladas, o que antecedeu nova redução, na safra 2017/2018, com 57.100 hectares e o resultado de 553.870 toneladas.

Estes altos e baixos aconteceram ao mesmo tempo em todo o Paraná: em 2014/2015, as lavouras produziram 4.637.882 toneladas. Na safra seguinte, queda de 27% resultou em 3.369.252 toneladas. Em 2016/2017, ocorreu uma expansão de nada menos de 47%, com 4.966.792 toneladas. Uma retração significativa, de 42%, em 2017/2018, traria o volume para 2.888.212 toneladas. Para 2018/2019, a estimativa é de área de 352,1 mil hectares, produtividade de 9,1 mil quilos por hectare e produção aumentando 11%, com 3,2 milhões de toneladas.

Neste panorama, emoldurado por reflexões sobre as vantagens agronômicas do milho na rotação com soja e a eventual desvantagem econômica em momentos de preço baixo, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL foi mais uma vez ao campo para conversar com agricultores que, em 2018/2019, terão a cultura em seu sistema produtivo.

Na tarde de 26 de setembro, Johann Zuber contou que neste verão continuará com o milho, numa área de sua propriedade, na região do distrito de Entre Rios, em Guarapuava. Comparando com outros tempos, ele relatou que a lavoura terá um espaço reduzido: “Antigamente, plantávamos de 30% a 35% da área. Nos últimos quatro anos, não passa de 10% a 12% - isso é uma tendência em nível brasileiro”. Segundo afirmou, a razão é o preço. Ele avalia que em suas lavouras, hoje, se considerados todos os fatores, como adubo, fertilizantes, combustível e defensivos, entre outros, o investimento por hectare gira em torno de R$ 6 mil.

Com isso, concluiu, a maior parte do que é colhido vai para custear a própria atividade: “Precisamos de quase 200 sacos (por hectare) só para pagar o custo. Vão sobrar uns 50 sacos para fazer a rentabilidade. Se colocarmos aí R$ 35,00 (a saca), até um pouco mais que 200 sacos por hectare para pagar o custo. Vão sobrar 30, 40 sacos só. Nós tivemos que vender, no ano passado, a R$ 22,00. Por isso, muita gente diminuiu (área), muitos até pararam de plantar”. Em meio ao plantio, naquela tarde interrompido por uma chuva inesperada, o agricultor ponderou que apesar das variações de preço, o cereal segue sendo importante na rotação: “Estamos com problema sério já, principalmente, de mofo branco (na soja). O milho é uma boa cultura para atenuar um pouco este problema”.

Em Candói, dia 28 de setembro, outro produtor também dava sequência à semeadura do milho 2018/2019. Gibran Thives Araújo, que conduz as lavouras da família com o irmão Thiago, recordou que eles, devido aos momentos de preço baixo do produto, vieram reduzindo área. Mas destacou que optaram por preservar a rotação, para ajudar no cultivo da soja: “Portanto, estamos com uma área muito próxima da do ano passado”. Este espaço, que segundo o agricultor já foi de 50%, corresponde agora ao que ele considera como um limite mínimo, a ser observado sem grandes variações, independentemente do que aconteça com os preços: “Hoje, o milho ocupa em torno de 25% da nossa área”, explicou.

Gibran comentou ainda o que espera da comercialização: “Quanto ao preço, vivemos um ano 2018 com uma produção abaixo da média histórica. Abaixou a oferta, melhoraram os preços. Acredito que entraremos numa safra nova com uma perspectiva de preços bons. Talvez não tão bons como foram até agora, neste ano, mas ainda firmes, por conta de uma demanda firme na produção de proteína animal, que é principalmente para onde vai o nosso milho”.

Quem também se voltava ao plantio, entre setembro e outubro, era o agricultor Karl Milla, do distrito de Entre Rios. Com as áreas de sua família no centro-sul do Paraná, ele relatou que a decisão para o milho 2018/2019 foi permanecer com o mesmo espaço da safra passada. A posição, ressaltou, é técnica, foi definida há alguns anos e desde então mantida mesmo em momentos de menores preços. Milla destacou ver, nas próprias flutuações dos mercados interno e externo, razão para prosseguir com a cultura. “Plantando em setembro, vamos colher em fevereiro. Não conseguimos saber, com essa antecedência, como é que vai estar o preço. Já plantamos com preço muito bom e já colhemos com preço muito ruim. E já teve o inverso, como nesse ano”, recordou. 

Para a comercialização do milho 2018/2019, ele vê possibilidade de alguma estabilidade de preços: “Acreditamos que a demanda no Brasil ainda tende a voltar a crescer um pouco, pela recuperação da parte de carnes e também pela  demanda que está tendo agora, cada vez mais, por milho para etanol em várias regiões”.

Partindo deste mesmo princípio, o agricultor pontuou que igual decisão vale também para a propriedade da família no Nordeste: “No Piauí, viemos aumentando as áreas de milho safra, plantando até 40%”, declarou, se referindo ao percentual de rotação com soja. “Com certeza vamos continuar plantando enquanto tiver mercado. E provavelmente vai ter muito mercado ainda para frente”, avaliou.

Mas para além das expectativas, o que o mercado sinaliza? A REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou a assessora técnica de grãos da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), engenheira agrônoma Ana Paula Kowalski, que também faz parte da equipe do Painel Custos de Produção de Grãos, do Projeto Campo Futuro (a iniciativa reúne Confederação Nacional da Agricultura-CNA, Sistema FAEP e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada-CEPEA, da Esalq/USP). 

Ana Paula analisou que as recentes variações de área no milho decorreram da rentabilidade: “O estímulo ou não ao plantio ocorre principalmente em função do preço e da competição de área com a soja na 1ª safra”. Outros fatores, elencou, também influenciaram: “A maior parte do milho produzido no Brasil é consumido no mercado interno (69%), ao contrário da soja. Dessa forma, os preços estão mais susceptíveis às variações de oferta e demanda aqui no Brasil. Foi exatamente este efeito que foi sentido pela cadeia produtiva do milho, resultado da maior safra brasileira e mundial da história na temporada 2016/2017”.

O ano de 2018, prosseguiu, trouxe nova configuração: “As perdas expressivas na 2ª safra brasileira, cuja colheita finalizou em setembro, foi um dos fatores de aumento do preço do milho. Aliado a isso, a Argentina também teve uma quebra de 10 milhões de toneladas em sua safra de milho em relação à estimativa inicial”.

Olhando para meses que estão à frente, a agrônoma sublinha que a safra 2018/2019 terá um estoque inicial 15% inferior em comparação com a safra passada, totalizando 194,15 milhões de toneladas. “Partindo deste estoque menor e com perspectiva de aumento da demanda, o aumento de 35 milhões de toneladas na produção mundial não será suficiente para recompor os estoques, que devem finalizar a temporada com saldo de 157 milhões de toneladas, de acordo com a projeção de setembro último do USDA”, contextualizou. A conjuntura se reflete nas cotações: “Certamente este estoque menor e a seca que ocorre na Europa é o que tem contribuído para a manutenção dos preços em patamares elevados. Além, é claro, da valorização do dólar frente a uma cesta de moedas”.

No mercado externo, onde Irã, Egito e Vietnã são os maiores consumidores do milho brasileiro, Ana Paula menciona que “as exportações do Brasil têm oscilado a cada safra, alternando anos de maior volume embarcado e anos de redução”. Ela ressalta no entanto que, em 2018, o país comercializou, de janeiro a agosto, para seis diferentes nações em comparação com o mesmo período de 2017. Naquela lista, se destacam Mianmar, com 484 toneladas e Iêmen, com 260 toneladas. “A expectativa para a safra 2018/2019 é de aumento nas exportações, de acordo com o USDA”, concluiu.

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